Um asperger em intercâmbio - Parte 2

by - setembro 18, 2018

Eu sinto a vida se contorcendo dentro de mim. Eu sinto que preciso mudar.  Eu sei exatamente o que eu vim fazer aqui, o que me movimentou para o intercâmbio, desde quando sonhei com a Nova Zelândia até tudo dar errado e eu vir para Malta.

Aqui somos em 27 pessoas morando na mesma hospedagem, estudando em escolas diferentes e nem da para conhecer todo mundo, nos cumprimentamos quando nos esbarramos nas escadas e na rua ficamos nos olhando e a pergunta que vem é sempre a mesma: você mora na house ou no hostel?

Somos jovens, velhos, negros, brancos, pobres, ricos, somos de todas as cores por aqui, inclusive verdes e amarelos. Somos diferentes uns dos outros, mas temos uma coisa em comum: CORAGEM. Cada um de nós largou algo no Brasil, a família, os amigos, os filhos, o emprego, os clientes, talvez até uma chance de ganhar mais dinheiro e veio para cá. Enfrentamos aeroportos que são um caos, vôos desconfortáveis que não terminam nunca, passagens emitidas erradas (meu caso). Cada um de nós busca algo e teve a coragem de vir até aqui pegar.

Eu me considero uma pessoa muito corajosa, eu enfrento o que tiver de enfrentar, embora eu não esconda nunca a minha dor, não escondo meus sentimentos, não escondo minhas impressões. A vida me ensinou a ser assim, para mim ela disse: não use tantas máscaras, mostre a sua cara e quem você realmente é, tenha coragem. Colete informações, perceba, chore, reivindique, pergunte, questione e aprenda por você mesma.

Eu sou humana, transito entro o bem e o mal o tempo inteiro, procuro não fazer coisas más só que penso muito sobre elas, não nasci para ser um anjo e nem estou pronta ou completa, sou asperger e apresento as dificuldades de ter um cérebro atípico, sofro muito por não conseguir me expressar e por ser julgada pelas minhas atitudes e pelas coisas que eu falo, assim como acontece com todo autista. Mesmo assim tenho coragem de estar aqui em outro pais e encarar os meus monstros, seguindo a minha vida dentro do meu tempo. Aliás, aqui falamos isso o tempo todo uns para os outros: "Faça no seu tempo". Ninguém se prende no outro, cada um sabe bem o que veio buscar e isso eu acho interessante, podemos nos ajudar sem nos sufocarmos.

Sei que a minha vida vai mudar depois do intercâmbio, preciso me desprender de muitas coisas, de muitas opiniões que me envenenaram desde quando eu era criança, as quais eu cresci acreditando que eram verdades absolutas, de pessoas que não são parecidas comigo e portanto dificilmente irão me ver como alguém capacitada e que merece respeito.

É verdade que nós criamos a nossa realidade, nos deixamos influenciar por opiniões e sentimentos externos, a gente se agarra como se essa ancora fosse uma tábua de salvação.

No final desse intercâmbio estarei decidida sobre o futuro do meu trabalho e de onde eu quero estar.

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