13 reasons why (Os 13 porquês)

by - janeiro 11, 2018





Acabei de assistir está série e estou até agora pensando se a considero boa ou não. Foi baseada no best seller de Jay Asher e isso é um ponto positivo, na minha opinião. Os episódios são longos e cansativos, tem hora que a gente pensa que não vale a pena continuar, a lentidão com que a história é mostrada e as complicações exageradas para aumentar o tempo na tela provoca irritação. Mas ao mesmo tempo, o assunto é delicado, instigante e começamos a nos questionar de tantas maneiras diferentes que a única opção é continuar assistindo.

Para quem não conhece a historia, ela é narrada pela Hannah, uma menina de dezessete anos que se suicidou e deixou 13 fitas gravadas contando os motivos do suicídio. Os 13 motivos são as pessoas que não a perceberam e que ajudaram a fragilizar ainda mais seu desejo de viver. Faz referencia ao efeito borboleta, que é um acontecimento que desencadeia várias situações que se tornam insustentáveis. Trata-se de depressão, bullying, homofobia, machismo, estupro, abusos e obviamente o suicídio, trata de forma magistral como cada pessoa pode ser, em ângulos diferentes, dependendo do interesse.

Quem ouve as fitas é o Clay Jensen, amigo de Hannah. No começo continuei assistindo a serie por causa do Clay, ele é um tipo 5 do eneagrama e eu o entendi bem, acaba sendo uma diversão para mim e fora que eu adoro entender as coisas. Depois de alguns episódios da para perceber em Clay traços asperger, mas não posso afirmar com certeza porque não deixam isso claro.

Há muita polêmica em torno dessa série, principalmente por profissionais da saúde que resolveram fixar seus relatos na internet descrevendo uma lista de criticas: que pessoas depressivas podem cometer suicídio ao ver a série, a ideia de culpabilização dos sobreviventes, a ineficácia ao pedir ajuda. 

Eu discordo deles, pois todas essas situações são reais e muito mais complexas do que uma obra de ficção, todos os envolvidos tem culpa porque ninguém costuma prestar atenção na dor do outro, preferem julgar, nem percebem que a pessoa está frágil demais para se defender. Pessoas que passam por traumas, não irão deixar isso muito claro, por uma série de fatores, vergonha, medo e culpa são os principais ingredientes.  Pedir ajuda em 99% dos casos é ineficaz mesmo, essa é a realidade, o que acontece é que a maioria não tem a coragem da Hannah e então se agarra onde pode, até em um graveto se for possível e assim vai sobrevivendo, mas isso é realmente melhor do que o suicídio? Só porque não virou mais um número na estatística?

As coisas não funcionam desse jeito, porque não somos números. Existem pessoas com coragem de olhar para baixo do ultimo andar de um prédio e outras que não chegam nem na sacada do terceiro andar, mas o sofrimento de ambas pode ser o mesmo, a forma que recebem o impacto é a mesma. E isso não tem a ver como ser mais fraco ou mais forte, de ser certo ou errado, isso tem a ver com crenças, persistência e curiosidade. 

Tem muita gente que já morreu por dentro, que já desistiu, já cometeu o seu suicídio, só não entrou para as listas, porque continua respirando.

O mais engraçado é que tudo o que a Hannah queria era ter amigos, eu acho que esse é um dos grandes motivos para a tristeza das pessoas. O Clay era diferente, ele era sincero com a Hannah, ele gostava dela, mas vivia em um mundo próprio, pois ele mesmo já havia sofrido pela falta de amizade e com a sua grande dificuldade de sociabilização. E neste personagem eu me encontrei em alguns aspectos. Não entendo se alguém me manda sair, querendo que eu fique. Se alguém me julga uma pessoa ruim de convivência, mas me chama para conviver, é incoerente para mim. Eu sempre irei me afastar quando não estou agradando, não gosto de impor minha pessoa a ninguém.

A Hannah sentia um impacto emocional muito forte nas situações que ela vivia, ela não estava errada e nem era perturbada, ela só sentia assim, era muito jovem e mulher. O Clay também sentia, mas ele se coloca em uma postura mais lógica, porque ele descobriu que a lógica o ajuda a sobreviver, é o que fez com que ele não cometesse a mesma atitude da Hannah.

Esse seriado me fez pensar em algo que eu já havia pensado. O Asperger me salvou. Tenho colapsos, crises de ira, depressão e ansiedade, mas no fim das contas o Asperger me leva para o caminho da lógica, faz com que eu me recolha e aprecie tanto o meu próprio mundo que o tempo passa e eu vou sobrevivendo, passando por dias bons e outros nem tanto.

Eu não tenho amigos e já senti muita falta deles, a vida inteira para falar a verdade, já fiz tantas besteiras para conseguir amigos que ficaria muito ruim de contar aqui. Diferente do Clay eu sou mulher e meu cérebro é menos logico que o dele, minhas emoções são menos controladas e para um aspie tudo o que foge do controle sempre causa uma grande confusão. 

Quando eu falo que não tenho amigos, não é para ofender ninguém ou me fazer vitima, só quero dizer que as pessoas não me conhecem e elas nem se interessam muito, porque todas essas pessoas já têm os seus próprios amigos, aqueles que falam a mesma língua, que discutem e entendem das mesmas coisas. São mais espertos do que eu, tem coisas que demoro para entender.

Eu me esforcei muito durante esses dez últimos anos, tentei de verdade ser uma pessoa melhor do que eu era e de um jeito diferente. Sempre pensei em suicídio, sempre foi algo muito comum desde os meus seis anos, quando eu não estava me matando eu estava matando alguém, então, posso falar sobre isso sem me sentir incomodada.  Depois de um intenso ano de abuso de drogas, porque eu queria morrer, essa foi uma das minhas formas de suicídio, mas existiram varias, incluindo a obesidade e as tentativas frustradas de anorexia e bulimia. Eu resolvi fazer diferente e entrei em outro estágio, começou pelo emagrecimento e  tentar marcar uma melhor presença no mundo, já que estava vivendo dentro dele e provavelmente iria continuar me machucando mais se seguisse pelo mesmo caminho.

Não consigo guardar rancor e nem mágoas, eu não esqueço quando alguém me fez sentir mal, mas eu consigo entender os motivos, alguns por serem jovens, outros por serem influenciáveis, outros por estarem fixados nos seus sonhos e interesses pessoais. Falo isso abertamente e talvez, pareça até que guardo rancor, mas não, eu só aponto o que deu errado. E se parece muito com o que a série também quer nos mostrar, todos eles tem “culpa” pelo suicídio de Hannah, mas todos tinham seus motivos para agirem daquela forma. Até o Clay, que gostava dela de verdade, mas pela falta de habilidade social só vai entender as coisas quando é tarde demais e porque alguém explica. 

Me reconheci no Clay, mas eu já havia me enxergado antes, desde que descobri a SA. Sei que magoei pessoas pela minha falta de habilidade, que tentei ter relacionamentos afetivos, mas realmente não levo jeito para isso, como sou mulher esperam de mim algo que nunca irei poder cumprir. 

Sinto falta de amizade e entendo a Hannah, fui piada no colégio também, essa busca nos coloca em situações difíceis e depois que você está dentro, não sabe mais como foi parar lá e nem sabe como sair, porque de repente fica tudo estranho e as pessoas mudam, porque a situação começa a atingir os interesses pessoais delas.

Enfim, é uma série longa e tudo aquilo que eu falei no começo do texto, mas vale muito a pena assisti-la e pensar nos nossos porquês e nos porquês dos outros também, cuidando para que os porquês de fora não nos atinjam tanto e lembrando que os outros 99% da ajuda que falta estão dentro de você.

O Asperger me salvou, eu tenho a mais absoluta certeza quando falo isso. Me salvou de sentir toda a dor emocional, a qual eu só tive real conhecimento de alguns anos para cá, me salvou de sentir dor física, me salvou porque me introduz no mundo do conhecimento e todas as vezes que eu pensava que não iria ter jeito, eu me surpreendia e acendia em mim a fé, porque já sabia fazer coisas como ler ou programar e até hoje continua assim, me salvando. 

#NaoSejaUmPorque



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