Escolhas são sempre difíceis

by - janeiro 08, 2018






Pela minha própria experiência e pelo que tenho acompanhado na literatura de escritores aspies, uma das grandes dificuldades é a de fazer escolhas. Se filosofamos até sobre a necessidade de dar bom dia, imagine ter que fazer uma escolha, pesar os prós e os contras rapidamente e depois pensar muito se foi mesmo a melhor escolha. 

Eu não consigo escolher um lanche no McDonald’s, por exemplo, já sai diversas vezes sem escolher nada e muito irritada. Prefiro comer o mesmo lanche, porque eu já conheço o gosto. No mercado é mesma coisa, quando vou ao mercado com outra pessoa fico observando e vejo que ela analisa produtos diferentes e procura coisas diferentes do que se propôs a fazer quando saiu de casa. Eu não, jamais faço isso, eu saio preparada para comprar sempre as mesmas coisas, geralmente tem que ser muito rápido também. Depois que passei a observar essa diferença minha, comecei a ir ao mercado sem planos, mas não tem dado muito certo, continuo pegando as mesmas coisas e me sinto como se eu estivesse perdida lá dentro, não faço nem ideia do que preciso e se preciso mesmo.

No livro Olhe nos meus Olhos, John fala sobre a dificuldade na escolha dos relacionamentos: “A minha habilidade em escolher as pessoas com quem eu possa criar relacionamentos foi sempre inferior à minha habilidade em escolher coisas mecânicas ou eletrônicas. (...) Pior ainda as pessoas tem que me escolher para criar esse relacionamento.” E ele filosofa um capitulo inteiro sobre se a sua esposa foi mesmo a opção certa, já que ela tem outras duas irmãs, ele conta que está muito feliz no casamento, mas ele queria ter certeza.

Durante muitos anos eu fiz uma reclamação: de que eu não sabia sentir. O que as pessoas sentem quando sabem que estão com a pessoa certa? Como elas sabem que estão apaixonadas? Como sabem que podem casar e constituir uma família? Como eu sei que fiz mesmo a escolha certa e posso colocar um fim nos meus pensamentos?

Não é colocar duvida em tudo, é só querer saber como é sentir isso de maneira analítica.

Eu acho que escolhas são difíceis porque expõe dois traços comuns da SA: lógica e assertividade. Temos um pensamento lógico, o que nos deixa confortáveis para nos expressarmos e traz consigo um grande alívio. Acho até que, conforme crescemos e adquirimos algumas habilidades, nos esforçamos para sermos assertivos, só que nos momentos errados, pois nos foge a percepção. 

“Assertividade é a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. Ser assertivo é dizer "sim" e "não" quando for preciso. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão)”.

Sabemos que o autismo e a SA atingem principalmente três áreas de desenvolvimento: Interação social, comunicação e comportamento.

Por esse motivo o aspie é criticado, muitas vezes, não existe nele nenhum sinal externo que indique uma deficiência conversacional. Então quando alguém o ouve falar, quando ele consegue exprimir o que pensa, pode ser rotulado como arrogante e ser criticado. O aspie acaba se sentindo frustrado por suas tentativas desajeitadas de expor pensamentos, pela sua insensibilidade em relação aos sentimentos e a intenção das demais pessoas, acaba desenvolvendo sintomas de transtorno de ansiedade e de humor.

Portando é muito difícil ainda para eu fazer escolhas e expressar meus pensamentos. Uma das características do Asperger Feminino é a de interiorizar emoções e sentimentos, principalmente quando está fora de casa. Sendo assim, as aspies são afetadas duplamente pelo estigma do autismo porque não sabem lidar com suas emoções.

Fontes: Síndrome de Asperger.blog, Manual para Síndrome de Asperger, Livro Olhe nos meus Olhos, John Elder Robinson.

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