Escolhas são sempre difíceis
Pela minha própria experiência e pelo que tenho
acompanhado na literatura de escritores aspies, uma das grandes dificuldades é
a de fazer escolhas. Se filosofamos até sobre a necessidade de dar bom dia, imagine
ter que fazer uma escolha, pesar os prós e os contras rapidamente e depois
pensar muito se foi mesmo a melhor escolha.
Eu não consigo escolher um lanche no McDonald’s,
por exemplo, já sai diversas vezes sem escolher nada e muito irritada. Prefiro
comer o mesmo lanche, porque eu já conheço o gosto. No mercado é mesma coisa, quando
vou ao mercado com outra pessoa fico observando e vejo que ela analisa produtos
diferentes e procura coisas diferentes do que se propôs a fazer quando saiu de
casa. Eu não, jamais faço isso, eu saio preparada para comprar sempre as mesmas
coisas, geralmente tem que ser muito rápido também. Depois que passei a
observar essa diferença minha, comecei a ir ao mercado sem planos, mas não tem
dado muito certo, continuo pegando as mesmas coisas e me sinto como se eu
estivesse perdida lá dentro, não faço nem ideia do que preciso e se preciso
mesmo.
No livro Olhe nos meus Olhos, John fala sobre a
dificuldade na escolha dos relacionamentos: “A minha habilidade em escolher as
pessoas com quem eu possa criar relacionamentos foi sempre inferior à minha
habilidade em escolher coisas mecânicas ou eletrônicas. (...) Pior ainda as
pessoas tem que me escolher para criar esse relacionamento.” E ele filosofa um
capitulo inteiro sobre se a sua esposa foi mesmo a opção certa, já que ela tem
outras duas irmãs, ele conta que está muito feliz no casamento, mas ele queria ter
certeza.
Durante muitos anos eu fiz uma reclamação: de que
eu não sabia sentir. O que as pessoas sentem quando sabem que estão com a
pessoa certa? Como elas sabem que estão apaixonadas? Como sabem que podem casar
e constituir uma família? Como eu sei que fiz mesmo a escolha certa e posso
colocar um fim nos meus pensamentos?
Não é colocar duvida em tudo, é só querer saber
como é sentir isso de maneira analítica.
Eu acho que escolhas são difíceis porque expõe
dois traços comuns da SA: lógica e assertividade. Temos um pensamento lógico, o que nos deixa confortáveis para nos expressarmos e traz consigo um grande alívio. Acho
até que, conforme crescemos e adquirimos algumas habilidades, nos esforçamos
para sermos assertivos, só que nos momentos errados, pois nos foge a percepção.
“Assertividade é a habilidade social de fazer
afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças
de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não
violar o direito das outras pessoas. Ser assertivo é dizer "sim" e
"não" quando for preciso. A postura assertiva é uma virtude, pois se
mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso
(agressão), outro por falta (submissão)”.
Sabemos que o autismo e a SA atingem
principalmente três áreas de desenvolvimento: Interação social, comunicação e
comportamento.
Por esse motivo o aspie é criticado, muitas vezes, não existe
nele nenhum sinal externo que indique uma deficiência conversacional. Então
quando alguém o ouve falar, quando ele consegue exprimir o que pensa, pode ser rotulado
como arrogante e ser criticado. O aspie acaba se sentindo frustrado por suas
tentativas desajeitadas de expor pensamentos, pela sua insensibilidade em relação
aos sentimentos e a intenção das demais pessoas, acaba desenvolvendo sintomas de transtorno
de ansiedade e de humor.
Portando é muito difícil ainda para eu fazer
escolhas e expressar meus pensamentos. Uma das características do Asperger Feminino é a de interiorizar emoções e sentimentos, principalmente quando está fora de casa. Sendo assim, as aspies são afetadas duplamente pelo estigma do autismo porque
não sabem lidar com suas emoções.
Fontes: Síndrome de Asperger.blog, Manual
para Síndrome de Asperger, Livro Olhe nos meus Olhos, John Elder Robinson.
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