Um asperger em intercâmbio - Parte 4

by - setembro 20, 2018

Minha maior dificuldade aqui é como em qualquer outro lugar: a tal da socialização. Em inglês eu respondo com um I´m fine, tks, e a conversa termina por ai. Com os brasileiros também tem sido complicado pois não consigo me enturmar, é como se eu falasse outra língua do mesmo jeito.

Ás vezes, eu encontro um brasileiro que acho bacana e acabo querendo falar tudo na mesma hora, tudo o que eu pensei sobre Malta, o que está melhor agora, minhas impressões sobre a escola e como é a minha vida pessoal. Não tem dado muito certo, pois depois eu nunca mais encontro a pessoa.

Sempre que eu faço qualquer tipo de mudança, ainda mais uma tão grande como essa, demoro até ficar bem e meu cérebro assimilar.  Eu costumo falar tudo o que eu vejo e qual a impressão que eu tive, na mesma intensidade que elas me afetam. O que acontece é que as pessoas não entendem, então elas me xingam muito, não importa se a pessoa já conhece o meu jeito, tanto conhecidos como desconhecidos gritam o mesmo refrão. Isso me machuca demais, porque eu só estou expondo a intensidade que eu também sinto. Assim são os autistas, a gente sempre fala: "Não me julgue pelo que eu falo, nem sempre eu falo o que eu queria dizer."

Malta foi dificil, vir para o intercambio sozinha foi dificil, o aeroporto de Roma foi dificil, mas foi muito mais dificil ser julgada e taxada das coisas que fui, tanto no facebook quanto no whatsapp. Mas agora eu defini quem realmente se importa comigo, quem me apoiou e me mostrou que existiam outras alternativas e aqueles que só vieram falar calmamente comigo quando tudo já estava calmo e por algum interesse especifico da parte deles.

Eu estou amando a minha escola, eu sempre amei estudar e o método de ensino aqui é muito bom e divertido, dinâmico e as minhas melhores risadas ficam lá. Eu me divirto muito mesmo, é como se eu pertencesse a esse mundo. O mundo no qual a gente aprende as coisas de verdade, coisas que são claras e interessantes, nos leva e eleva para um outro nível. O inglês  ensinado na escola é o britânico o qual eu gosto muito, nunca gostei do inglês americano e nunca tive vontade de aprendê-lo.

Tem dias que estou mais autista e tem dias que estou menos (para quem não entende: me refiro aos stims e a minha conexão com as pessoas). Hoje eu decidi falar na aula sobre o autismo, porque tínhamos que nos apresentar em um exercício que a professora fez, então falei para testar o que acontecia, já que quando convivem comigo por um tempo as pessoas me acham um pouco "esquisita", então, não vejo problema em tornar publico antes deles criarem um certo preconceito.

Foi bom, eu me senti melhor e mais livre, quando eu falo parece que eu não preciso mais ficar percebendo o jeito que estou sentada, se estou balançando as pernas ou rindo muito alto por alguma coisa que eles nem acharam tão engraçado assim. 

E eu acho importante as pessoas terem contato com um autista dessa forma e entender que nós somos iguais e podemos não ser tão caricatos quanto eles veem nos filmes, que podemos no divertir, seremos bons alunos e principalmente podemos ser bons amigos.

Você pode se interessar

0 comentários

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *