Difícil né? Ainda mais para os autistas adultos. Sofri a vida
toda por não ter nada que caracteriza o autismo em mim, nada além do meu
sofrimento calado. Cresci e não sou mais tão calada assim.
Eu
falo, falo o que penso, falo sem filtro, falo a verdade, procuro contar
tudo nos mínimos detalhes para passar a informação que estou falando o
que aconteceu de verdade. O que eu não sabia, era que isso também é ruim. Eu sinto e demonstro o que sinto, dou
risada alto se tô feliz, faço muitos gestos com as mãos; se tô
triste, eu choro, choro muito; se estou confusa, me escondo.
Falo sozinha desde que me conheço por gente, é fácil para mim sair fora desse
mundo, é difícil entender as pessoas e responder as perguntas que
elas fazem, de fazer contas e saber a ordem real dos acontecimentos.
É fácil perdoar e perceber só a parte boa das pessoas, gostar delas de
verdade, o difícil é saber demonstrar isso. É fácil me doar para um
trabalho que eu gosto com pessoas que eu gosto, difícil são elas
perceberem que está é a minha linguagem de amor.
É fácil ouvir
que eu sou esquisita, arrogante ou qualquer outra coisa que quem me
conhece um pouco passa a falar para mim, o difícil é eu entender porque
falam tudo isso.
É fácil eu saber que não sei quase nada, que
tenho limitações e que algumas coisas não são instintivas para mim, que tudo o que eu aprendi foi a custa de um grande
sacrifício, o difícil sou eu me perdoar de um erro.
Hoje é o dia da
conscientização e eu desejo que nós sejamos mais conscientes que existem diversos tipos de mentes, conscientes sobre a neurodiversidade, que com esse aprendizado possamos
ser mais felizes ao lado das pessoas, respeitando e aceitando o jeito
de cada um pensar e sentir.
Durante todos esses dias eu ando triste e desanimada, mas eu sempre tenho essa força interior que me faz acreditar de novo que tudo pode ser possível. Assisto uma palestra ou leio um livro que me faz pensar como eu devo agir, que faz com que eu enxergue a minha resistência e lance estratégias para modificá-la mais uma vez.
Hoje é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e da minha conscientização também, não são só os neuro típicos que precisam aprender a respeitar os autistas, nós também precisamos e podemos começar nos respeitando.
Os autistas conseguiram espaço na mídia, estão sendo mais vistos e ouvidos, olha só: eles agora estão falando! Agora eles são adultos, mulheres e meninas. Agora eles são médicos, professores, cantores, atores e escritores. Pasmem, tem até jogador de futebol. Essas conquistas também devemos comemorar, no meu ponto de vista, é o começo de uma evolução.
Nós vamos aprender a nos comunicar, os neurotípicos aprenderão a nos ouvir e valorizar, não só pelas nossas habilidades acima da média, mas também como seres humanos, mesmo que sejamos tão diferentes.
0 comentários