Que o desapego vire sossego...
Depois de muito tempo, hoje resolvi escrever de novo no blog.
O mês de março foi complicado para mim, faz um ano que a minha vida não está boa. Mas em março as coisas se complicaram, eu parei de tomar os remédios, estava sem terapia, o mundo virou um caos.
Acho que para os autistas toda essa sobrecarga de informações negativas, a ansiedade gerada em massa afeta demais o nosso sistema. Eu não vivenciei muitas mudanças porque estou acostumada a ficar em casa, não sair e não ter amigos próximos. Mas antes, eu estava indo para a cidade de uma amiga e ficava na casa dela. Na última vez que a vi, no começo de março, ela foi viajar então eu voltei para a minha cidade, no dia que eu saí de lá, algo me dizia que eu nunca mais a veria de novo.
Eu estava arrasada, quando cheguei na rodoviária entrei em crise, não sabia mais onde e nem qual era meu ônibus, fiquei esperando e o perdi. Demorei para chegar em casa para poder sentir um pouco de alivio dentro do meu peito.
Comecei a ficar doente e a pandemia do COVID19 se instalou no Brasil, procurei postos de saúde e tentei me recuperar, as notícias sempre ruins e eu entrei em crise. Tudo mudou de repetente e eu não consegui mais equilibrar a ansiedade, foram muitas crises, muito choro e um estresse de nível alto. O autista tem muita dificuldade de saber o que está sentindo e nem porque está sentindo, entrar em contato com certas emoções nos fazem tremer, gritar e às vezes, se machucar.
Fui orientada a voltar para a terapia, mudar a alimentação, fazer caminhadas e eu recomecei tudo isso, mesmo estando apegada a minha forma de vida, pois para autistas é um esforço grande mudarmos coisas as quais nos acostumamos, como a alimentação, por exemplo.
Resolvi ser forte e seguir as indicações. As coisas voltaram ficar bem e a minha preocupação ficou voltada ao trabalho e a arrumar uma forma de ganhar dinheiro. Falava com a minha amiga através do WhatsApp pois tínhamos trabalhos juntas. Mas as coisas não deram certo, brigamos muito, algumas coisas me chateiam e outras chateiam ela.
Acredito que não deva ser fácil ser amigo de um autista, somos repetitivos, muitas vezes, uma palavra ou um acontecimento desencadeiam uma crise.
"Lembramos de muitas situações da nossa vida, o problema é que são lembranças desordenadas, elas se repetem na nossa cabeça como se tivessem acabado de acontecer. Quando isso ocorre, as emoções que sentimos da primeira vez voltam com a mesma intensidade. Geralmente são memórias ruins, coisas que a gente não gostaria de relembrar, não desse jeito, podemos congelar, tremer ou entrar em pânico."
"5 coisas que é legal saber sobre o pensamento autista:
1. Não suponha que cada palavra que dizemos é aquilo que pretendíamos.
2. Meus sentimentos são bem parecidos com os seus.
3. Nos sentimos abandonados pelo mundo inteiro.
4. O conceito do que é engraçado para nós é diferente do que é para vocês.
5. Temos a sensação de que o nosso corpo não nos pertence e ele realmente escapa do nosso controle."
Do livro: O que me faz pular, de Naoki Higashida
A amizade acabou. Minha vida, minha rotina, minha espera para conversar com alguém, assistir uma série ou saber o que acontece no mundo de outra pessoa, vai mudar. Vou ser sincera que isso me causa pânico e medo.
Eu sei que o autista cria co-dependência com certas pessoas, durante a vida são poucas, um melhor amigo ou um terapeuta, que vira o seu hiperfoco e não existe nada e nem ninguém mais importante no mundo do que essa pessoa.
Sei que vai ser difícil daqui para frente. Mas hoje estou aqui escrevendo e está é a minha forma de lutar contra a crise, a forma que eu encontrei de poder conversar.
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