É um livro de John Elder Robison, onde ele
conta a história da sua vida e como foi conviver com a Síndrome de Asperger sem
ter sido diagnosticado. Ele foi diagnosticado somente aos 40 anos e 9 anos depois
escreveu o livro.
Eu soube disso antes de chegar nos trechos mais
pesados e pensei: “Demorar 09 anos para escrever um livro, por quê?”. O próprio John escreve a resposta: “Levei muitos anos reunindo forças
para contar essas histórias neste livro.”
Ainda não terminei de ler, porque é empolgante
e eu gostaria de escrever mais sobre ele depois. Eu não quero fazer spoiler do
livro, porque ele merece ser lido. E se você for Asperger, com certeza lerá
mais de uma vez ou destacará suas partes preferidas para sempre poder reler.
Na história do John eu consigo perceber as
diferenças entre o autismo masculino e o feminino, as semelhanças entre nós e o
mais importante, perceber como a vida molda cada um, nos fazendo únicos.
O que mais impressiona é a memória a longo
prazo do Asperger. John descreve pessoas, lugares e sensações como se fosse
ontem e desde os quatro anos de idade. Lógico que quanto maior a idade mais fácil
é, porque vamos aprendendo a enxergar o mundo.
A vida de um Aspie, principalmente dos que não
são diagnosticados é um grande desafio. Depressões e ansiedade são constantes
desde a mais tenra idade, principalmente se ele vive em uma família instável,
como foi caso do John.
“Crescer foi um solitário e doloroso caminho. A
Síndrome de Asperger não é uma doença, é uma maneira de ser. Não há nenhuma
cura, nem é preciso. Há, no entanto, a necessidade de conhecimento e de
adaptação por parte das crianças com Asperger, de suas famílias e de seus amigos.
(...) Levou bastante tempo para que chegasse a este ponto, para saber quem eu
sou. Meus dias de clandestinidade acabaram. Orgulho-me de ser um Asperger.”
Essas palavras do John representam a voz de
quem recebe o diagnóstico tardio, sair da clandestinidade e compreender que
tudo o que fez e passou teve um motivo, que sua forma de ver o mundo não está
tão errada assim, que não é só um sujeito esquisito e desajeitado, que
finalmente, está sendo liberado de toda dor de ser quem é.
E ele também acha que a SA o salvou: "Por sorte, o Asperger me isolou da pior parte dessa insanidade, até que eu tivesse idade suficiente para escapar."
Aos 13 anos John ganhou um kit de eletrônica e
demorou duas semanas para conseguir montar o “brinquedo”. Depois disso, ele
pegou o gosto pela coisa. É muito comum os Aspies terem afinidades com
máquinas, assim como John, eu costumo dizer: “eu me relaciono melhor com
computadores (que eu chamo de máquina) do que com pessoas”. Entendo de
máquinas e sei que posso consertá-las e lidar com elas, é mágico, embora não
aja mágica nenhuma.
Mais tarde ele ganhou um contrabaixo e um amplificar
da avó e descobriu que era um fracasso na musica, mas que ele conseguia ouvir
sons muito bem. Então, com algumas aulas e muito estudo, ele modificou o amplificador
para uma potencia maior e “limpou” o som. Conheceu uma garota Aspie, que apelidou de Ursinho e os dois consertavam os equipamentos do colégio, ao mesmo
tempo em que ele começou a fazer sucesso com as bandas da cidade, todos queriam
que ele consertasse os equipamentos.
A história do John deixa muito claro que o
ambiente que o aspie vive influencia na sua personalidade, o deixando calmo ou
violento, repetindo o que aprende, pode ser inocente quando está sob proteção
ou desenvolto quando sabe que não pode contar com ninguém.
Durante a primeira parte do livro lembrei muito
das dificuldades na escola, a falta de socialização e a tendência de fazer só o
que queria. Eu era assim, e os diretores ficavam felizes quando eu decidia
mudar de escola. Quando eu tinha 6 anos queria ter amigos, mas não sabia como e
então eu dizia: “Vai catar lata”, para a primeira criança que aparecesse. Pois
é, eu assistia a novela Paraíso. Com o tempo foi ficando mais fácil e eu me
aproximava de quem tivesse os mesmos interesses que os meus, que no começo era
o de colecionar lagartas, eu queria ter uma criação de bichos-da-seda. Depois passei a colecionar coisas de menina, o
que realmente disfarçava o hiper foco e me tornava mais sociável.
O John fez terapias e foi rotulado de muitas coisas como psicopata,
sociopata e o pai dele previa que ele seria frentista de posto de
gasolina.
"Ao invés de fazer uma investigação mais profunda, era mais fácil e menos controverso para esses profissionais dizer que era apenas preguiçoso, hostil ou desconfiado."
"Ao invés de fazer uma investigação mais profunda, era mais fácil e menos controverso para esses profissionais dizer que era apenas preguiçoso, hostil ou desconfiado."
John se tornou um homem de negócios bem-sucedido, segundo o prefácio do livro. Eu não consigo “ver” pessoas quando estou lendo um livro, não consigo ter a mínima ideia de como elas são, então, o que eu imaginei do John, foi um terno sem ele dentro, obviamente. Fui pesquisar na internet e o John é um cara “boa pinta” e sem terno.
O que me emocionou no livro? Quando John começa
a trabalhar com as grandes bandas de rock e cria a guitarra fumegante do KISS,
isso foi realmente demais. Eu ouvia KISS em 1985, tinha um álbum duplo na minha
casa e eu gostava de Million to One e Rock and Roll all Night. Mas eu não sabia
nada sobre o KISS ou sobre Rock, eu só gostava muito de ouvir boas musicas.
Olhem só as guitarras personalizadas pelo John Elder Robison: